B I O G R A F I A
Barão Du Potet
O Barão Jules Du Potet de Sennevoy (1786-1881), ou simplesmente Barão Du Potet, foi um dos mais notáveis magnetizadores que o mundo já viu. Tornando-se adepto do mesmerismo em 1819, fez parte da segunda geração de magnetizadores, da qual constava Charles Lafontaine, Charpignon, Gautier e outros. Tido como uma pessoa extraordinária e de coração generoso, foi um dos propagandistas da ciência magnética, para o que empregava grandes esforços, chegando a abrir uma escola prática de magnetismo onde as pessoas podiam instruir-se e ao mesmo tempo verificar in locu os fenômenos produzidos. “Nunca, diria Du Potet, a medicina ordinária ofereceu ao público o exemplo de tantas garantias”, em face dos relatórios confirmando as curas, que eram impressos e distribuídos em grande quantidade para esclarecimento do povo (site omensageiro.com.br). Em 1820 dirigiu inúmeras experiências magnéticas em hospitais. O Barão aplicava os passes magnéticos e se tornou conhecido pela rapidez dos resultados e pela intensidade dos efeitos. As experiências foram interrompidas pelo Conselho Geral dos Hospícios (BERSOT, 1995). Em todas as épocas da humanidade houve aqueles que, envolvidos pela onda de fanatismo ou de um falso cientificismo que não investiga aquilo que vai além do já estabelecido, perseguiram cruel e injustamente os portadores da verdade que tinham a missão de propagar o bem. Du Potet não foi exceção à regra e por duas vezes foi levado ao tribunal. Nos dias 15 e 27 de junho de 1836, compareceu perante o Tribunal de Polícia Correcional e ante a Côrte Régia de Montpellier, enfrentando o mais célebre processo envolvendo o Magnetismo (Magnetismo Curativo, Alphonse Bué). Rejeitando advogado, fez ele mesmo a sua defesa da qual transcrevemos alguns trechos retirados da obra citada: “Todo o meu crime é ter solicitado o exame público, não de uma doutrina, mas de simples fenômenos que os sábios da vossa cidade ignoram.... Condenar-me-eis por tal fato? ... Pequei contra a moral? - Ensino os homens a fazerem de suas reservas vitais o emprego mais nobre: aliviar os sofrimentos dos seus semelhantes.
... tudo quanto posso dizer-vos, é que ensino a produzir o sono sem ópio, a curar a febre sem quina; a minha ciência dispensa as drogas, a minha arte arruína os boticários. Nós, magnetizadores, damos forças ao organismo, sustentamo-lo quando ele sucumbe; damos óleo à lâmpada, quando ela já não o tem. ... Finalmente, não se pode impedir de proclamar uma verdade. Calar-se, porque esta verdade pode ofuscar certos espíritos prevenidos ou retardatários, é, na minha opinião, mais do que um crime: é uma covardia.” (grifos originais)
Este processo provocou grande alarido por toda parte e restou que, tendo sido absorvido, o seu magnífico depoimento eivado de coragem e grandiosa altivez atraiu muita gente para os seus cursos e tratamentos. Em 1852 escreveu sua obra mais famosa o “Tratado Completo sobre magnetismo animal”. Era ainda editor do “Journal du Magnétisme” e dirigente da “Sociedade Mesmeriana”. De início incrédulo, mais tarde o barão se torna espírita, diante dos inúmeros fatos da realidade espiritual constatados durante as sessões de sonambulismo. Um dos seus discípulos foi Pierre-Gaëtan Leymarie, o qual deu continuidade à Revue Spirite, de Allan Kardec. O próprio Codificador da Doutrina Espírita fez parte, até 1850, do grupo de estudiosos e magnetizadores a que pertencia o Barão Du Potet.
Barão Du Potet
EXTRAÍDO DO JORNAL DO MAGNETISMO 1860
Solicitado por dois partidários esclarecidos do magnetismo, os condes de Tolstoy e Schouvaloff para fazer uma sessão experimental de magnetismo diante de seleta assembleia, aceitei este convite e, no sábado último, hospedei-me no hotel da Sra. Princesa Butera. Recebi a mais benevolente diligente acolhida. Cerca de vinte e cinco pessoas foram admitidas nesta pequena sessão todas, devo dizer, bem desejosas de constatar as singularidades e misteriosos fenômenos do magnetismo. Sabia-se que, não me fazendo acompanhar por indivíduos sensíveis, as experiências seriam feitas com as pessoas da assembleia. Eu poderia escolher, mas não usei desta permissão. Chamei a primeira pessoa que se encontrava diante de mim, uma jovem dama e, em dois minutos a vimos se curvar, inteiramente submissa à potência magnética; ela se inclinou mais e mais e nos mostrou o primeiro grau do sonambulismo. Eu a acordei subitamente e, aproximando-me de uma jovem localizada perto dela, dois minutos me foram suficientes para produzir o sonambulismo, mas este foi diferente do primeiro: os olhos permaneceram abertos, nenhum abaixamento das pálpebras foi percebido e fiz constatar o fenômeno da fixação do olhar para toda a assembleia. As pálpebras abaixadas se levantaram e esta encantadora pessoa, sempre tão vivaz, parecia ter sido transformada em estátua. Eu a liberei logo e, escolhendo a seguir uma outra jovem de cerca de dezoito anos, provoquei de novo, em dois ou três minutos, uma crise de sono. Este apresentou outras diferenças: foi acompanhado por soluços, espasmos e choro. Eu a acalmei e logo um sorriso inefável apareceu em seu rosto; seus traços tomaram uma expressão extraordinária de beleza, lembrando o êxtase. Fiz desaparecer todo traço de ação e restabeleci o equilíbrio. Peguei então uma jovem que me disse estar com dor de cabeça. Aqui os efeitos foram bem diferentes: seu olhar se ligou ao meu e me seguiu constantemente sem se distrair um instante. Esta jovem tinha a consciência da situação na qual eu a havia colocado; depois que eu rompi o encanto, ela declarou que sua dor de cabeça havia desaparecido.
Neste momento a princesa, senhora idosa e com a vista enfraquecida, pediu-me para tentar com ela esta misteriosa potência, prevenindo-me de que ela não se acreditava sensível. Porém, dois minutos foram suficientes para que eu agisse sobre ela. Vimos sua cabeça se inclinar, seus braços ficarem suspensos, tal como no sono. Os braços levantados tornavam a cair como se tivessem sido privados de vida e eu creio que poderia beliscá-la sem encontrar sensibilidade.
Tinha então encontrado o que me faltava para uma demonstração interessante que não deixasse nada a desejar; também o embaixador da Rússia, o conde de Kisselff declarou bem alto que estas experiências o convenceram inteiramente.
Tendo apenas como um prefácio estes curiosos fenômenos, quis prosseguir seu desenvolvimento. Minha tarefa tornou-se fácil e variei as experiências com cada uma das pessoas. Exerci uma atração irresistível sobre uma dessas damas; ela foi forçada a vir colocar suas costas contra as minhas e caminhamos sem que eu a sustentasse e sem mudar de posição. Coloquei um avental diante de outra magnetizada, a cinco ou seis passos do sofá que ela ocupava: vimos esta senhorita ter sobressaltos e logo ela se dirigiu, como se impulsionada por uma força oculta, para o avental colocado sobre o tapete. Ele se ajoelhou, curvou a cabeça e juntou o avental. Eu quis experimentar a potência de alguns sinais mágicos. Tracei sobre o parque, com o giz, um pequeno círculo e logo uma das magnetizadas (jovem condessa grávida) lançou um olhar doce e penetrante sobre as linhas traçadas e a visão começou a se produzir: mas ao apagar o círculo, a miragem desapareceu. Meu objetivo não era ir mais longe, embora tivesse ali tudo o que seria preciso para produzir efeitos mágicos, tudo o que precisava para assustar e esclarecer ao mesmo tempo, mas achei que a assembleia não estivesse disposta a ver mais do que já tinha visto; talvez apenas alguns homens de elite quisessem me ver ir além nesta nova ordem.
Quanto tempo precisei para obter resultados tão inconcebíveis? Apenas três quartos de hora. Deixo meus leitores pensando no efeito moral produzido. Ali não havia nenhum compadre e eu não conhecia nenhuma das pessoas a quem magnetizei. Ah! É assim que se estabelece uma ciência, colocando-se sempre de maneira a tirar todas as dúvidas, comprovando sua força sem trazer consigo instrumentos já preparados, o que oferece a todos os olhares apenas um conjunto de fenômenos contestáveis. Nesta pequena descrição, não pude pintar o fascínio destas experiências, dizer o que se expressou no rosto dos meus magnetizados, os movimentos de suas almas e de seus corpos. Os fenômenos do magnetismo não podem ser descritos, pois não há expressão para traduzi-los.
Excelente trabalho de pesquisa e divulgação do Magnetismo, Luan.
ResponderExcluirMantenha-se guiado pelo espírito da generosidade, compartilhando seus resultados e ajudando novos e futuros magnetizadores a seguirem ajudando uns aos outros, como Potet fez. Um forte abraço!
Quanto a natureza dispõe de recursos ainda não compreendidos, quanto inexplorados. E como ainda, nos tempos atuais,apesar dos avanços do conhecimento, os levianos se fazem juízes, para explicar o que não é do seus domínios, o que nunca exploraram e portanto, pouco ou nada sabem.
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