quarta-feira, 9 de março de 2022

A defesa do Allan Kardec ao Magnetismo.



                    


                   MAGNETISMO E

                       ESPIRITISMO

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           Quando apareceram  os primeiros fenômenos espíritas, algumas pessoas pensaram que essa descoberta – se podemos aplicar lhe esse nome – ia desfechar um golpe fatal no magnetismo e que com ele ocorreria o mesmo que aconteceu com as demais invenções: a mais aperfeiçoada faz esquecer a precedente. Tal erro não tardou em dissipar-se e prontamente se reconheceu o parentesco dessas duas ciências. Ambas, com efeito, baseadas sobre a existência e a manifestação da alma, longe de se combaterem, podem e devem prestar-se um mútuo apoio: completam-se e se explicam uma pela outra. Seus respectivos adeptos, entretanto, diferem sobre alguns pontos: certos magnetistas 1 não admitem ainda a existência oupelo menos, a manifestação dos Espíritos; acreditam poder tudo explicar tão-só pela ação do fluido magnético, opinião que nos limitamos a constatarreservando-nos discuti-la mais tarde. Nós mesmos a partilhávamos, no início; mascomo tantos outrostivemos que nos render à evidência dos fatos.


 Os adeptos do Espiritismo, ao contrário, são todos partidários do magnetismo; admitem sua ação e nos fenômenos sonambúlicos reconhecem uma manifestação da alma. Essa oposição, aliás, se enfraquece a cada dia, e é fácil prever que não está longe o tempo em que toda distinção terá cessado. Essa divergência de opinião nada tem que deva surpreender. Nos primórdios de uma ciência ainda tão nova é muito natural que cada um, encarando as coisas do seu ponto de vista, haja formado uma ideia diferente. As ciências mais positivas tiveram sempre, e têm ainda suas seitas, sustentando com ardor teorias contrárias; os sábios ergueram escolas contra escolas, bandeira contra bandeira e, muito frequentemente para sua dignidade, sua polêmica, tornada irritante e agressiva pelo amor-próprio ferido, saiu dos limites de uma sábia discussão. Esperamos que os partidários do magnetismo e do Espiritismo, mais bem inspirados, não deem ao mundo o escândalo de discussões tão pouco edificantes e sempre fatais à propagação da verdadeseja qual for o lado em que ela esteja.


 Podemos ter nossa opinião, sustentá-la, discuti-la; mas o meio de nos esclarecermos não é nos estraçalhando, procedimento sempre pouco digno de homens sérios e que se torna ignóbil se o interesse pessoal está em jogo. 


O magnetismo preparou o caminho do Espiritismo, e o rápido progresso desta última doutrina se deveincontestavelmenteà vulgarização das ideias sobre a primeira. Dos fenômenos magnéticos, do sonambulismo e do êxtase às manifestações espíritas não há mais que um passo; tal é sua conexão que, por assim dizer, torna-se impossível falar de um sem falar do outro. Se tivéssemos que ficar fora da ciência magnética, nosso                          

1 Magnetizador é o que pratica o magnetismo; magnetista se diz de alguém que lhe adote os princípios. Pode-se ser magnetista sem ser magnetizador; mas não se pode ser magnetizador sem ser magnetista.


quadro seria incompleto e poderíamos ser comparados a um professor de física que se abstivesse de falar da luz. Todaviacomo entre nós o magnetismo já possui órgãos especiais justamente acreditados, seria supérfluo insistirmos sobre um assunto que é tratado com tanta superioridade de talento e de experiência; a ele, pois, não nos referiremos senão acessoriamentemas de maneira suficiente para mostrar as relações íntimas entre essas duas ciências que, a bem da verdade, não passam de uma.


 Devíamos aos nossos leitores essa profissão de fé, que terminamos prestando uma justa homenagem aos homens de convicção que, afrontando o ridículo, os sarcasmos e os dissabores devotaram-se corajosamente à defesa de uma causa toda humanitária. 

                                                                                                                                   


                                                       Qualquer que seja a opinião dos contemporâneos sobre o seu proveito pessoal, opinião que de uma forma ou de outra é sempre o reflexo das paixões vivazes, a posteridade far-lhes-á justiça; ela colocará os nomes do Barão Du Potetdiretor do Journal du Magnétisme, do Sr. Milletdiretor da Union magnétique, ao lado de seus ilustres predecessores, o Marquês de Puységur e o sábio Deleuze. Graças aos seus perseverantes esforços o magnetismo, popularizado, fincou o pé na ciência oficial, onde dele já se fala aos cochichos. Esse vocábulo já passou à língua comum; já não afugenta mais e, quando alguém se diz magnetizador, não lhe riem mais no rosto.

Revista Espírita, março 1858. Allan Kardec

3 comentários:

  1. Excelente, Luan!
    Quanto mais se propagar a Doutrina, aliada ao Magnetismo, mais pessoas poderão optar por seguir ambos ou, pelo menos, conhecer o Magnetismo (que já será um ganho extraordinário). Sou sua fã 😃
    Sou sua fã.

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  2. Não haverá Espiritismo consistente desde que não se admita o Magnetismo. O Magnetismo é a LIGA natural de todos os fenômenos da Vida.

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  3. Reavaliando verdades distorcidas.
    Titulo de um livro em que Jacob Melo nos dá, de mão beijada, as passagens e os lugares em que Kardec alude, explica, justifica e ensina a complementariedade entre Espiritismo e Magnetismo.
    Né Luan!
    A leitura é excelente!
    Abraço

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