terça-feira, 3 de maio de 2022

Conheça um pouco sobre este corajoso e incansável magnetizador. Charles Leonard Lafontaine.

 B I O G R A F I A




Charles Lafontaine



Em 1841, assistindo uma demonstração pública de magnetismo, o médico inglês James Braid, de Manchester, surpreso com as habilidades e os resultados alcançados pelo magnetizador Charles Lafontaine, interessa-se pelo assunto fazendo surgir o hipnotismo. Foi neste ano que Lafontaine realizou diversas experiências com o intuito de provar os efeitos magnéticos sobre as plantas. Após tomar um gerânio que estava morrendo, o magnetizou conseguindo revivê-lo e mais, estimulando o seu crescimento e fazendo-o florescer com mais abundância do que os outros gerânios que ali estavam plantados. Outros magnetizadores, seguindo os seus sucessos, realizaram outras experiências alcançando êxitos fabulosos com plantas, não somente curando-as, como também tornando-as mais produtivas. Nascido em Vendôme, França, em 1803, Charles Lafontaine participou da segunda geração de magnetizadores juntamente com o Barão du Potet, Aubin Gautier, Charpignon, Foissac, entre outros.

Foi um grande divulgador do magnetismo através das suas demonstrações itinerantes. O público, ao vê-lo, tomava-o por um curandeiro místico, um charlatão, levados pela sua aparência exótica para a época, um homem fisicamente grande, que se vestia sempre de preto e usava uma longa barba. Convenciam-se do seu potencial ao vê-lo atuar sobre alguma pessoa, levando-a a uma extrema insensibilidade, mesmo quando submetida a choques ou queimaduras com velas. Em 1854, ministrou cursos sobre magnetismo que eram frequentados por pessoas de alta instrução e de diversas profissões e religiões. Além disso, publicava um jornal intitulado “Le Magnetiseur”. Escreveu ainda uma autobiografia e “L'art de magnétiser”, contendo resumos de suas observações. Morreu em Genebra, Suíça, em 1892.

 


 

sábado, 16 de abril de 2022

Vamos conhecer um pouco sobre o Barão do Potet. Magnetismo clássico.

 

B I O G R A F I A

Barão Du Potet






  O Barão Jules Du Potet de Sennevoy (1786-1881), ou simplesmente Barão Du Potet, foi um dos mais notáveis magnetizadores que o mundo já viu. Tornando-se adepto do mesmerismo em 1819, fez parte da segunda geração de magnetizadores, da qual constava Charles Lafontaine, Charpignon, Gautier e outros. Tido como uma pessoa extraordinária e de coração generoso, foi um dos propagandistas da ciência magnética, para o que empregava grandes esforços, chegando a abrir uma escola prática de magnetismo onde as pessoas podiam instruir-se e ao mesmo tempo verificar in locu os fenômenos produzidos. “Nunca, diria Du Potet, a medicina ordinária ofereceu ao público o exemplo de tantas garantias”, em face dos relatórios confirmando as curas, que eram impressos e distribuídos em grande quantidade para esclarecimento do povo (site omensageiro.com.br). Em 1820 dirigiu inúmeras experiências magnéticas em hospitais. O Barão aplicava os passes magnéticos e se tornou conhecido pela rapidez dos resultados e pela intensidade dos efeitos. As experiências foram interrompidas pelo Conselho Geral dos Hospícios (BERSOT, 1995). Em todas as épocas da humanidade houve aqueles que, envolvidos pela onda de fanatismo ou de um falso cientificismo que não investiga aquilo que vai além do já estabelecido, perseguiram cruel e injustamente os portadores da verdade que tinham a missão de propagar o bem. Du Potet não foi exceção à regra e por duas vezes foi levado ao tribunal. Nos dias 15 e 27 de junho de 1836, compareceu perante o Tribunal de Polícia Correcional e ante a Côrte Régia de Montpellier, enfrentando o mais célebre processo envolvendo o Magnetismo (Magnetismo Curativo, Alphonse Bué). Rejeitando advogado, fez ele mesmo a sua defesa da qual transcrevemos alguns trechos retirados da obra citada: “Todo o meu crime é ter solicitado o exame público, não de uma doutrina, mas de simples fenômenos que os sábios da vossa cidade ignoram.... Condenar-me-eis por tal fato? ... Pequei contra a moral? - Ensino os homens a fazerem de suas reservas vitais o emprego mais nobre: aliviar os sofrimentos dos seus semelhantes.





... tudo quanto posso dizer-vos, é que ensino a produzir o sono sem ópio, a curar a febre sem quina; a minha ciência dispensa as drogas, a minha arte arruína os boticários. Nós, magnetizadores, damos forças ao organismo, sustentamo-lo quando ele sucumbe; damos óleo à lâmpada, quando ela já não o tem. ... Finalmente, não se pode impedir de proclamar uma verdade. Calar-se, porque esta verdade pode ofuscar certos espíritos prevenidos ou retardatários, é, na minha opinião, mais do que um crime: é uma covardia.” (grifos originais)

  Este processo provocou grande alarido por toda parte e restou que, tendo sido absorvido, o seu magnífico depoimento eivado de coragem e grandiosa altivez atraiu muita gente para os seus cursos e tratamentos. Em 1852 escreveu sua obra mais famosa o “Tratado Completo sobre magnetismo animal”. Era ainda editor do “Journal du Magnétisme” e dirigente da “Sociedade Mesmeriana”. De início incrédulo, mais tarde o barão se torna espírita, diante dos inúmeros fatos da realidade espiritual constatados durante as sessões de sonambulismo. Um dos seus discípulos foi Pierre-Gaëtan Leymarie, o qual deu continuidade à Revue Spirite, de Allan Kardec. O próprio Codificador da Doutrina Espírita fez parte, até 1850, do grupo de estudiosos e magnetizadores a que pertencia o Barão Du Potet.

 

Barão Du Potet

EXTRAÍDO DO JORNAL DO MAGNETISMO 1860





  Solicitado por dois partidários esclarecidos do magnetismo, os condes de Tolstoy e Schouvaloff para fazer uma sessão experimental de magnetismo diante de seleta assembleia, aceitei este convite e, no sábado último, hospedei-me no hotel da Sra. Princesa Butera. Recebi a mais benevolente diligente acolhida. Cerca de vinte e cinco pessoas foram admitidas nesta pequena sessão todas, devo dizer, bem desejosas de constatar as singularidades e misteriosos fenômenos do magnetismo. Sabia-se que, não me fazendo acompanhar por indivíduos sensíveis, as experiências seriam feitas com as pessoas da assembleia. Eu poderia escolher, mas não usei desta permissão. Chamei a primeira pessoa que se encontrava diante de mim, uma jovem dama e, em dois minutos a vimos se curvar, inteiramente submissa à potência magnética; ela se inclinou mais e mais e nos mostrou o primeiro grau do sonambulismo. Eu a acordei subitamente e, aproximando-me de uma jovem localizada perto dela, dois minutos me foram suficientes para produzir o sonambulismo, mas este foi diferente do primeiro: os olhos permaneceram abertos, nenhum abaixamento das pálpebras foi percebido e fiz constatar o fenômeno da fixação do olhar para toda a assembleia. As pálpebras abaixadas se levantaram e esta encantadora pessoa, sempre tão vivaz, parecia ter sido transformada em estátua. Eu a liberei logo e, escolhendo a seguir uma outra jovem de cerca de dezoito anos, provoquei de novo, em dois ou três minutos, uma crise de sono. Este apresentou outras diferenças: foi acompanhado por soluços, espasmos e choro. Eu a acalmei e logo um sorriso inefável apareceu em seu rosto; seus traços tomaram uma expressão extraordinária de beleza, lembrando o êxtase. Fiz desaparecer todo traço de ação e restabeleci o equilíbrio. Peguei então uma jovem que me disse estar com dor de cabeça. Aqui os efeitos foram bem diferentes: seu olhar se ligou ao meu e me seguiu constantemente sem se distrair um instante. Esta jovem tinha a consciência da situação na qual eu a havia colocado; depois que eu rompi o encanto, ela declarou que sua dor de cabeça havia desaparecido.

  Neste momento a princesa, senhora idosa e com a vista enfraquecida, pediu-me para tentar com ela esta misteriosa potência, prevenindo-me de que ela não se acreditava sensível. Porém, dois minutos foram suficientes para que eu agisse sobre ela. Vimos sua cabeça se inclinar, seus braços ficarem suspensos, tal como no sono. Os braços levantados tornavam a cair como se tivessem sido privados de vida e eu creio que poderia beliscá-la sem encontrar sensibilidade.




  Tinha então encontrado o que me faltava para uma demonstração interessante que não deixasse nada a desejar; também o embaixador da Rússia, o conde de Kisselff declarou bem alto que estas experiências o convenceram inteiramente.

  Tendo apenas como um prefácio estes curiosos fenômenos, quis prosseguir seu desenvolvimento. Minha tarefa tornou-se fácil e variei as experiências com cada uma das pessoas. Exerci uma atração irresistível sobre uma dessas damas; ela foi forçada a vir colocar suas costas contra as minhas e caminhamos sem que eu a sustentasse e sem mudar de posição. Coloquei um avental diante de outra magnetizada, a cinco ou seis passos do sofá que ela ocupava: vimos esta senhorita ter sobressaltos e logo ela se dirigiu, como se impulsionada por uma força oculta, para o avental colocado sobre o tapete. Ele se ajoelhou, curvou a cabeça e juntou o avental. Eu quis experimentar a potência de alguns sinais mágicos. Tracei sobre o parque, com o giz, um pequeno círculo e logo uma das magnetizadas (jovem condessa grávida) lançou um olhar doce e penetrante sobre as linhas traçadas e a visão começou a se produzir: mas ao apagar o círculo, a miragem desapareceu. Meu objetivo não era ir mais longe, embora tivesse ali tudo o que seria preciso para produzir efeitos mágicos, tudo o que precisava para assustar e esclarecer ao mesmo tempo, mas achei que a assembleia não estivesse disposta a ver mais do que já tinha visto; talvez apenas alguns homens de elite quisessem me ver ir além nesta nova ordem.

  Quanto tempo precisei para obter resultados tão inconcebíveis? Apenas três quartos de hora. Deixo meus leitores pensando no efeito moral produzido. Ali não havia nenhum compadre e eu não conhecia nenhuma das pessoas a quem magnetizei. Ah! É assim que se estabelece uma ciência, colocando-se sempre de maneira a tirar todas as dúvidas, comprovando sua força sem trazer consigo instrumentos já preparados, o que oferece a todos os olhares apenas um conjunto de fenômenos contestáveis. Nesta pequena descrição, não pude pintar o fascínio destas experiências, dizer o que se expressou no rosto dos meus magnetizados, os movimentos de suas almas e de seus corpos. Os fenômenos do magnetismo não podem ser descritos, pois não há expressão para traduzi-los.








 

segunda-feira, 4 de abril de 2022

Conheça um pouco sobre o J. P. François Deleuze.

 B I O G R A F I A

 

O Sábio Deleuze


 Deleuze foi discípulo direto de Mésmer e, juntamente com o Marquês de Puységur e seus sucessores deu grande contribuição a que fosse o Magnetismo reputado como ciência e visto com o respeito que se deve às grandes coisas. Nascido em março de 1753 em Sisterom, Baixa Alpes, Jean Philippe François Deleuze, bibliotecário do Museu de História Natural, teve seu interesse voltado para o Magnetismo em 1785. Até então não cria nas histórias maravilhosas que narravam a respeito do magnetismo, achando mesmo que eram loucos aqueles que partilhavam do seu interesse. Tomando conhecimento das experiências realizadas por Mésmer, resolveu procurá-lo. Admitido à corrente, viu o doente adormecer após alguns minutos tendo ele mesmo adormecido ao cabo de 15 minutos, um sono agitado ao ponto de perturbar a corrente. No dia seguinte, tendo-se mantido em vigília, pôde acompanhar todo o trabalho de Mésmer e solicitar instruções a respeito do magnetismo (Magnetismo Espiritual, Michaelus). Escreveu diversas obras importantes no esclarecimento e difusão da ciência magnética. Entre eles, publicou em 1813, “Histoire Critique du Magnétisme Animal”. Diz Ernest Bersot: “Era ótimo, para uma doutrina tão mal afamada, encontrar um defensor honorável, sábio, judicioso, moderado em suas opiniões e na expressão dessas opiniões, um desses patronos que dão aos tímidos a coragem de confessar sua crença”. Sua segunda obra, “Instruction Pratique sur le Magnétisme Animal” era um manual prático para os magnetizadores, baseado nas suas intensas pesquisas e experiências. O Dr. Deleuze conhecia a ligação dos sonâmbulos com os Espíritos, apesar de, no início, mostrar-se relutante. Sobre isso manteve célebre contato c om o Dr. G. P. Billot durante os anos de 1829 a 1833. As correspondências entre os dois originaram o livro “Correspondence Upon Vital Magnetism”, publicado em 1839 pelo Dr. Billot. Assim se expressou Deleuze: “Não vejo razão para negar a possibilidade da aparição de pessoas que, tendo deixado esta vida, ocupam-se daqueles que aqui amaram e aconselhas. Acabo de ter disto um exemplo”. “Deleuze tornou-se um grande magnetizador e, pela sua prudência, critério e operosidade, muito fez pela causa do magnetismo, em cujo fenômeno reconheceu não só um efeito físico, mas também espiritual”. (Michaelus)






Magnetismo clássico e terapêutica magnética

 MOMENTO DO MAGNETISMO CLÁSSICO

 

Tradução de Lizarbe Gomes

LIVRO TERCEIRO

DA DIREÇÃO DE UM TRATAMENTO MAGNÉTICO

CAPÍTULO I

PRELIMINAR DE TODO TRATAMENTO

 

É essencial, eu diria mesmo, indispensável fixar as horas das sessões e dizer ao doente que ela deve ser exata.

Assim também o magnetizador, pois em caso de sonambulismo a inexatidão traz graves inconvenientes.

Ele irá considerar os hábitos do doente e do regime que lhe é ordinário; ele fará as modificações convenientes e recomendará a observação; a cada sessão ou de tempos em tempos, ele se informará dos resultados.

Ele prevenirá o doente que ele deve, tanto quanto possível ser assistido pela mesma testemunha e, sobretudo evitar apresentar como um crente ou homem impassível, um incrédulo ou um antagonista do magnetismo, explicando-lhe que a presença deste último poderia anular a ação ou a atenuar. E para que o doente seja atento a esta recomendação, ele não hesitará em lhe dizer que, em caso de infração da parte dele, ele será forçado a abandoná-lo.

Tomadas estas precauções e depois de haver examinado a si mesmo como eu disse anteriormente, o magnetizador poderá passar ao tratamento.

 

CAPÍTUL0 II

DOS PRINCÍPIOS GERAIS DE DIREÇÃO

 

O fim invariável de um tratamento magnético é ajudar a natureza sem contrariá-la jamais. É preciso então apenas magnetizar nos casos úteis e necessários, ou seja, para aliviar ou curar.

Não se deve jamais procurar agir sobre a imaginação dos doentes e procurar produzir efeitos extraordinários; ao contrário, toda a atenção deve ser empregada em fiscalizar as crises que possa sobrevir e aproveitá-las.

É preciso ter e conservar uma grande calma e quando uma crise se manifesta, deixar o doente apenas quando ela tiver terminado e quando ele tiver voltado ao seu estado normal.

Quaisquer que sejam as opiniões concebidas sobre a maior ou menor utilidade dos procedimentos é indispensável fixar-se neles, após a experiência dos outros ou da sua mesmo, afim de não ter um só momento de medo ou de hesitação, para não embaraçar a si mesmo e para não perder um tempo precioso procurando quais são os procedimentos mais convenientes. Deve-se empregar as forças gradualmente e não de imediato ao se começar.

É preciso evitar magnetizar ao sair da mesa e durante o trabalho de digestão; assim como é bom não estar de jejum, afim de não se cansar ou de esgotar tão rápido.

Nem durante a doença nem durante a convalescença é preciso magnetizar por tão longo tempo; as primeiras sessões devem ser de no máximo uma hora, as seguintes de três quartos de hora à meia hora.

Quase sempre é interessante tanto para o magnetizador como para o doente, não fazer mais de duas sessões por dia. De um lado, é preciso dar tempo ao magnetismo para produzir seus efeitos e, por outro lado, pela mesma razão, o operador se fatigaria inutilmente.

No entanto, se é necessário sustentar uma crise, um movimento imprimido, o que acontece às vezes, obedece-se às circunstâncias seguindo as necessidades do doente e até que a crise termine. Tem-se visto magnetizadores obrigados a sustentar uma crise durante três, quatro, cinco horas, por vezes por todo o dia e toda uma noite. Não se deve começar um tratamento senão se está seguro de poder continuá-lo.

É bastante perigoso interromper um tratamento iniciado ou de não sustentar uma crise que se tenha excitado e que a natureza não possa conduzir a seu fim sem ajuda do magnetismo. Eu falarei disso mais adiante.

 

CAPÍTULO III

DA APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS GERAIS AOS CASOS PARTICULARES

Quando se vê que o magnetismo age, é preciso redobrar a atenção sem perder a calma que se tenha conservado para esperar seus efeitos; deve-se, sobretudo, evitar fazer esforços para aumentar aqueles os quais se acabou de obter, se perturbaria assim a marcha da natureza.

Se a magnetização colocou o doente num estado que não lhe é o comum, assim como as dores, os movimentos nervosos, a transpiração, os espasmos ou fortes cólicas e estes diversos sintomas se renovando durante várias sessões, não é preciso se preocupar; estes sintomas desaparecerão por si mesmos e às vezes antes do fim da sessão.

Acontece por vezes – estes casos são muito raros, mas é bom estar prevenido – que a primeira impressão do magnetismo produz uma crise acompanhada de movimentos convulsivos, enrijecimento dos membros, acessos de choro ou de riso; o magnetizador não deve se assustar ou se inquietar, mas agir em consequência.

Assim ele se esforçará, através de palavras doces e benevolentes, mas também firmes e seguras, para inspirar a calma e a segurança ao doente; ele pegará os seus polegares por um momento e em seguida fará várias fricções longitudinais.

Se as fricções excitam o doente em vez de acalmá-lo, se faz passes à distância; magnetiza-se em “grandes correntes” e a calma acaba por chegar.

Quando o caso se apresente por duas vezes seguidas, tomam-se as precauções para a terceira sessão; contenta-se apenas em pegar os polegares e, relação estabelecida, se magnetiza por passes longitudinais à distância. O doente permanecendo calmo, retorna-se pouco a pouco ao lugar que se ocupava e se tenta de novo os procedimentos necessários até que o doente termine por suportar a ação.  

É necessário não confundir os movimentos convulsivos que duram apenas por um momento com uma irritação nervosa que continua após a sessão e se prolonga de uma a outra deixando o magnetizado num estado de contínuo mal-estar. Quando se encontra estas pessoas que tem este gênero de suscetibilidade, é preciso usar com eles os procedimentos mais calmantes e agir de longe.

Se, depois de três ou quatro sessões, o mesmo efeito acontecer, deve-se colocar um dia de intervalo nas sessões seguintes; e se, ao fim de oito a dez dias, os mesmos sintomas se apresentem é preciso cessar, tirando do fato as consequências seguintes: o magnetizador ou o magnetismo não convém ao doente.

Para se assegurar, confia-se o doente a um outro magnetizador; se o mesmo fenômeno ocorre, substitui-se este magnetizador por um outro; pode-se mesmo tentar um terceiro, após o qual, não havendo mudança, se concluirá que o magnetismo não convém ao doente.

Finalmente, quaisquer que sejam as crises que sobrevenham no curso de um tratamento, não se assuste; se você não se perturbar, se permanecer calmo, nada pode acontecer e nada de desagradável acontecerá ao doente.

 

CAPÍTULO IV

DO TEMPO NECESSÁRIO PARA JULGAR A AÇÃO REAL DO MAGNETISMO

O magnetismo, por não produzir sempre os efeitos sensíveis e aparentes, torna necessário ser prudente e não decidir tão rápido que ele é impotente sobre o doente que começou o tratamento. Nas moléstias agudas que surgem de repente, é raro que o magnetismo não aja de maneira a mostrar logo todo o bem que ele pode fazer ou sua impotência. 

 1 O Sr. Deleuze diz sobre o mesmo assunto: “o efeito sobre o qual acabei de falar (uma crise nervos no início de uma magnetização) é tão raro que o produzi por mim mesmo somente três ou quatro vezes em uma prática de trinta e cinco anos. Sei bem que aconteceu várias vezes e que teve consequências desagradáveis. Mas foi entre pessoas que magnetizavam para fazer experiências, para mostrar os fenômenos e não com a calma e a única intenção de fazer o bem. Eu teria apenas cuidado de anotar este efeito se eu já não tivesse visto recentemente um exemplo do qual vou dar conta para me fazer melhor entender, se bem que esta obra não seja destinada a relacionar estes fatos. Fui solicitado há alguns dias a dar uma lição a uma senhora que queria magnetizar sua filha, atingida por uma doença leve, mas forte e antiga e cuja causa se ignorava. Eu coloquei a mãe ao meu lado e, para lhe mostrar os procedimentos, magnetizava sua filha que não experimentou absolutamente nada. O Sr. Deleuze diz sobre o mesmo assunto: “o efeito sobre o qual acabei de falar (uma crise nervos no início de uma magnetização) é tão raro que o produzi por mim mesmo somente três ou quatro vezes em uma prática de trinta e cinco anos. Sei bem que aconteceu várias vezes e que teve consequências desagradáveis. Mas foi entre pessoas que magnetizavam para fazer experiências, para mostrar os fenômenos e não com a calma e a única intenção de fazer o bem. Eu teria apenas cuidado de anotar este efeito se eu já não tivesse visto recentemente um exemplo do qual vou dar conta para me fazer melhor entender, se bem que esta obra não seja destinada a relacionar estes fatos. Fui solicitado há alguns dias a dar uma lição a uma senhora que queria magnetizar sua filha, atingida por uma doença leve, mas forte e antiga e cuja causa se ignorava. Eu coloquei a mãe ao meu lado e, para lhe mostrar os procedimentos, magnetizava sua filha que não experimentou absolutamente nada.

Geralmente quinze dias são suficientes para determinar e trazer efeitos reais e evidentes; mas já se viu também a ação se fazer sentir apenas ao fim de alguns meses.

“Eu tive ocasião de ver, entre as doenças orgânicas inveteradas, diz o doutor Koreff, que a ação só começou a se manifestar após dois meses ou mesmo mais tarde. Vi também que o sono magnético se mostrou somente no fim da cura e que os sintomas do sonambulismo só se manifestaram na convalescença. Parecia então que toda a força era absorvida na esfera do mal orgânico.

Eu tratei em Viena uma doença que afetou a cunhada do representante da Rússia. A cura aconteceu em alguns meses sem que eu tenha percebido o menor fenômeno magnético; a doença pareceu ficar estacionária durante algum tempo.

Na surdez causada unicamente por uma afecção dinâmica do nervo, obtive várias vezes, curas completas, sem o menos fenômeno sensível.

Um soldado ferido na batalha de Waterloo, atingido pelo tifo, que tinha produzido um abscesso na chaga da panturrilha, já minado pela febre, a diarréia, recusando-se obstinadamente à amputação, foi curado em dois meses pelo magnetismo sem que nenhum sintoma marcante se manifestasse nele.

O pequeno número de fatos que acabei de relatar, acrescenta o Sr. Koreff são suficientes para provar que as curas pelo magnetismo nem sempre são precedidas pelos efeitos que anunciam sua ação e que não é preciso se desencorajar tão rápido.

 

CAPÍTULO V

DO GRAU DE SENSIBILIDADE MAGNÉTICA SEGUNDO A

CONSTITUIÇÃO E O TEMPERAMENTO DOS DOENTES

Mesmer disse: “Há corpos mais ou menos suscetíveis de magnetismo”. E Puységur depois de numerosas observações, acrescentou já em 1784: existem doenças que, mesmo muito graves e perigosas, recusam a ação magnética por certo tempo o que desencoraja às vezes o magnetizador e o magnetizado. Eu acreditaria que tal doença que resiste à ação de um magnetizador, cederia, talvez mais rápido, ao domínio de outro homem. Eu tive doentes sobre os quais não pude jamais produzir o menor efeito, apesar do desejo extremo que eles tinham de senti-lo e eu atribuo a causa apenas a minha pouca analogia com eles. A experiência ensinará talvez que tal homem será mais próprio que outros a curar certas enfermidades; talvez também os temperamentos, os caracteres trarão considerações na escolha dos tratamentos, pela razão de que estas causas podem constituir analogias e relações mais diretas nos indivíduos. Eis, com efeito, o que demonstram sessenta anos de experiências: A generalidade dos doentes é sensível à ação magnética. Há, entretanto aqueles sobre os quais o magnetismo não age, seja por sua constituição, seu temperamento ou ao gênero da doença ou ainda ao defeito de analogia com o magnetizador. Há tal doença na qual a ação do magnetismo não se faz perceber, tal outra onde ela será evidente. O mesmo homem que era insensível em estado saudável provará os efeitos do magnetismo quando estiver doente. A sensibilidade se manifestará num incômodo leve e não terá dado nenhum sinal numa doença grave. Os mesmos homens são mais ou menos sensíveis à ação, segundo as disposições

 2 Carta do Sr. Korekff a Deleuze, Intruções Práticas, 403 a 407. 

momentâneas nas quais eles se encontram. Enfim, várias pessoas se acreditam insensíveis à ação; mas é porque eles não encontraram ainda o magnetizador que lhes convém. Quanto mais a marcha da natureza for perturbada, mais é difícil restabelecê-la; o magnetismo tanto age de uma maneira mais simples e mais eficaz sobre as pessoas que levam um vida simples e frugal, que não tem sido agitadas pelas paixões como sobre aquelas que perturbam sua vida pelos abusos mundanos ou pelos abusos dos remédios.

As pessoas nervosas, quando influenciadas pelo magnetismo, apresentam fenômenos singulares, mas elas oferecem menos exemplos de curas. Os habitantes do campo, que vivem simplesmente se curam bem mais facilmente e mais rápido que os outros. Enfim, nas doenças crônicas, os sinais são menos sensíveis e menos prontos que nas doenças agudas.

 

CAPÍTULO VI

DA EXTREMA SENSIBILIDADE DAS CRIANÇAS

À AÇÃO DO MAGNETISMO E DE SEU PRONTO RESTABELECIMENTO

 

Todas as experiências feitas desde Mesmer, sobre as crianças provam que, por sua natureza não estar ainda contrariada pelos abusos da vida, a ação magnética é bem mais rápida e bem mais salutar sobre elas que sobre os homens.

A filha primogênita da princesa M***, criança de dez a doze anos, disse Puységur (1811) estava em convulsões violentas há várias horas; sua interessada mãe e a Sra. Ch... sua tia, chorando perto de seu leito, perdiam a esperança de conservá-la. Os pós e os remédios utilizados em casos semelhantes haviam sido infrutuosamente administrados; o mal resistia a energia de todos os medicamentos; ao menos foi o que me disseram as senhoras ao me solicitar que as seguissem a fim de verificar se o magnetismo, do qual haviam ouvido louvar a eficácia, poderia produzir algum efeito feliz sobre sua pequena doente; atendi às suas súplicas.

Quando entrei na casa da Sra. M***, eu vi o quadro de todas as dores: a pequena Honorine, os olhos verdes e fixos, estava enrijecida e sem movimento e seus pais, silenciosos em seu redor, pareciam apenas esperar pelo momento de receber seu último suspiro.

Sem lhes dirigir a palavra, sem mesmo lhes pedir um novo consentimento, eu tomei a pequena Honorine em meus braços com o travesseiro no qual ela descansava; eu me sentei e a coloquei assim sobre meus joelhos. Então, sem me ocupar com nada do que se passava ao meu redor, eu me concentrei inteiramente tocando esta criança com o único propósito de produzir sobre ela o efeito que lhe seria mais salutar. Ao fim de alguns minutos, acreditei perceber o retorno da respiração. Eu coloquei uma mão sobre seu coração e senti fracos batimentos. Eu dizia a cada segundo, para mim mesmo, as observações consoladoras que eu fazia. Meu profundo recolhimento impôs um silêncio o qual, na dolorosa expectativa em que estávamos, ninguém tentou romper. De repente, ouviu-se o ruído tranquilizador de uma abundante evacuação.

Exprimi a alegria que senti e, sem descobrir ainda nem olhar a pequena, eu apenas continuei com mais energia o exercício de minha ação magnética; logo um repouso geral dos músculos e a cessação do estado convulsivo da criança foram os felizes resultados.

 Em menos de meia-hora, enfim, eu tive a doce satisfação de devolver a criança aos braços de sua mãe, inteiramente salva do perigo que a ameaçava.

Na Rússia, na Prússia, na Baviera, os efeitos do magnetismo sobre as crianças têm sido pertinentes e admiráveis.

Vê-se frequentemente curas miraculosas entre as crianças, dizem o Sr. Brosse, médico russo e Muck, médico bávaro (1818). Eles não opõem nem dúvidas nem preconceitos à influência magnética.

As crianças são mais dependentes da vontade dos outros, mais suscetíveis, mãos irritáveis e a natureza mais ativa entre elas em todas as funções é mais disposta a se regularizar para restabelecer a saúde.

Uma criança de dez anos, indiferente a tudo e absolutamente idiota, foi trazida a casa do Sr. Wolfart, em Berlim. Ao fim de alguns dias, ele expressou o desejo de retornar ao tratamento quando a hora fixada se aproximava. Eu o vi, disse um desses senhores, quando entrava na casa do Sr. Wolfart, abrir passagem na multidão de doentes para se aproximar dele. Depois de um tratamento de alguns meses, as funções dos sentidos e as do espírito se desenvolveram maravilhosamente.

Uma criança de quatro anos tinha sido curada de uma coxalgia pela aplicação de um cautério; mas como se havia várias vezes excitado o cautério com o pó epispástico, a criança sofria muito. As dores cessavam assim que eu a magnetizava.

À noite, a mãe tentou magnetizá-la para adormecê-la e consegui tão bem quanto eu. A criança lhe dizia: continue, mamãe, isto me faz bem.

Eu vi, acrescentou este médico, crianças fracas, pálidas, magras, tendo o ventre duro e inchado, em estado de atrofia enfim, e entre as quais o quadro era bem avançado, se restabelecer em pouco tempo pelo magnetismo; a digestão e a nutrição se operavam, os corpos engordavam, os músculos se fortificavam e o crescimento parado se desenvolvia perfeitamente.

Eu sempre notei que o magnetismo agia com mais prontidão, mais força e mais sucesso sobre as crianças.

Eu lembro de uma cura da qual fui testemunha e que me surpreendeu por sua rapidez; é a de uma menina de dois ou três anos. Esta criança parecia bem nutrida, havia engordado, mas não podia se apoiar sobre suas pernas. Quando ela ficava em pé, os joelhos dobravam, ela caía e começava a chorar. Os membros eram, contudo, bem feitos, somente os músculos pareciam frouxos e moles.

Na segunda vez que esta criança foi magnetizada, ela se pôs em pé e na terceira vez, caminhou muito bem.

Entre as doenças as quais já vi curar entre as crianças pelo magnetismo, eu posso citar as paralisias dos membros, as erisipelas, as doenças de pele, os catarros pulmonares obstinados e que faziam temer pela tísica mucosa, os inchamentos das glândulas, diarréias, vômitos convulsivos, doenças dos olhos.

Os efeitos do magnetismo não são menos surpreendentes nas deformidades do tórax e de outros produzidos pelo raquitismo. Eu vi uma criança em que um desvio bastante considerável da espinha dorsal diminuiu de duas a três polegadas durante um tratamento de cerca de três meses.

Nas dores de cabeça, nas enxaquecas, nas hidrocefalias, na surdez, eu observei crises notáveis pelas secreções e escorrimentos nas orelhas, nos olhos, no nariz e mesmo pela salivação.

Na França, o magnetismo operou com o mesmo sucesso e com a mesma rapidez sobre as crianças.

Uma menina de dezoito meses, diz Deleuze (1825) tinha um terçol que lhe fazia mal. Seu pai a colocou sobre seus joelhos; ela a magnetizou colocando-lhe a mão sobre os olhos; a criança logo adormeceu. Uma hora depois ela se acordou e o terçol havia desaparecido.

A Sra. *** em Châlons-sur-Marne tinha um filho de seis anos cujos intestinos eram tão relaxados que ele se sujava todas as noites. Tinha-se empregado todos os meios imagináveis para remediar esta enfermidade; enfim, sua mãe tomou a tarefa de magnetizá-lo.

Na primeira vez o magnetismo produziu uma evacuação extraordinária; na segunda vez houve ainda um movimento, mas na terceira vez a criança foi curada.

Conheci uma jovem de doze anos cujas vértebras lombares formavam uma saliência considerável; um respeitável eclesiástico, com quem ela havia feito sua primeira comunhão, aconselhou sua mãe a magnetizá-la e se encarregou de dirigir o tratamento. Em quinze dias as vértebras retornaram a posição que elas deviam ter.

Conforme diz Bruno, como não admirar esta providência adorável que coloca o remédio ao lado do mal, põe entre as mãos de cada um dos membros de uma família os meios de curara ou de aliviar os males inevitáveis aos quais a humanidade está exposta.

Ó mães!! Escutem a natureza, cedam a este instinto que as levam a abraçar sua criança, a apertá-la docemente contra seu seio; levem sobre ela sua mão benfeitora; aplique-a por longo tempo em prece pelo doente sobre as principais vísceras do baixo ventre, sobre o estômago. Procurem apenas nas preces o socorro que possa ajudá-las em sua ação. Rejeitem com horror estes venenos que, se não matam sua criança alterarão sensivelmente as partes ainda sensíveis de sua organização.

CAPÍTULO VII

DAS CRISES MAGNÉTICAS

 

Há uma diferença na acepção dada pelos médicos e magnetizadores à palavra crise.

Os médicos, diz Deleuze, chamam de crise toda mudança súbita que, sobrevindo de uma doença a modifica em sua marca ou caráter e permite prejulgar o resultado.

Estas crises parecem o esforço da natureza para expulsar o princípio mórbido. Elas são salutares quando se operam completamente; elas são prejudiciais quando o doente não tem a força de suportá-las. Elas se manifestam por diversos sintomas, tais como um deslocamento da sede do mal, uma alteração notável na pulsação, evacuações, excreções, erupções, abscessos, dores em certas partes do corpo, movimentos nervosos, etc. Nas moléstias agudas, as crises se operam em dias determinados aos quais denominamos de dias críticos.

Os magnetizadores chamaram crises as mudanças notáveis que a ação do magnetismo produz sobre aqueles que a ele são submetidos, e ao estado diferente do estado natural no qual o magnetismo os faz entrar; e como de todas as alterações de estado que estão na sequência do magnetismo, o sonambulismo é o mais singular e o mais caracterizado, os magnetizadores tem geralmente designado sob o nome de crises e tem chamado os sonâmbulos de “crisíacos”.

Esta expressão, assim restrita, se alarga bastante do sentido que os médicos ordinariamente lhes dão, mas é suficiente para se estar prevenido e não mais se enganar.

Assim, uma crise é o sono ordinário, mas provocado pelo magnetismo; é o sono pesado, sempre provocado, é um acesso de riso ou de choro; é uma cólica violenta, um acesso nervoso, uma dor crítica qualquer, é, enfim, acima de tudo, o sonambulismo.

Mas se pode estar em estado magnético sem estar em crise, assim como vou lhe explicar.

 

CAPÍTULO VIII

DA DIFERENÇA ENTRE ESTADO MAGNÉTICO E CRISE MAGNÉTICA

 

É importante distinguir o estado magnético do estado de crise.

Deleuze afirma: “Dá-se o nome de estado magnético a todo o estado diferente do estado natural e que está na sequência da influência magnética: esta palavra, mais geral que aquela de crise, não apresenta nenhum equívoco. “ (Instr. Práticas, 58)

Eu seria da mesma opinião de Deleuze se não visse, nas palavras estado magnético e crise, as diferenças que existem entre magnetismo e sonambulismo, ou seja, que eles exprimem dois estados diferentes e não uma só coisa.

Eu vou provar.

Quando um doente vem à magnetização, ele está no seu estado ordinário ou num estado chamado crise pelos médicos, o que é estranho ao magnetismo.

Quando a relação se estabelece entre o magnetizador e ele, ele está ainda no estado ordinário e não magnético, a relação não é mais que uma tentativa, um começo de comunicação. Mas quando os efeitos se mostram e se sustentam seja na primeira sessão, seja – o que é mais certo – depois de alguns dias de tratamento quando o magnetismo, sem sintoma aparente, dá ao doente as forças que ele não tinha e que, pelo feito, ele se encontra melhor, seja quando excita o escorrimento dos humores quando eles estavam fixos, ou quando procure o sono depois de muito tempo prisioneiro da insônia, é evidente que o doente não está mais no estado no qual se achava antes de procurar o tratamento; a partir de então pode-se dizer que ele está em estado magnético.

Pode-se estar em estado magnético sem ter crises. Assim o sonambulismo se declara, é uma crise. A transpiração, cessada há muito tempo, restabelece-se; uma bruma que obscurecia a visão se dissipa; dores antigas se despertam de repente a cada passe sob a mão do operador, eis igualmente as crises.

(...)

Assim então é preciso estabelecer que:

Entende-se por estado magnético aquele no qual se encontra o doente desde o momento em que sente os primeiros sintomas da magnetização até aquele onde ela torna-se inútil pelo retorno à saúde.

Entende-se por crise um efeito aparente que se declara durante o estado magnético.

O estado magnético é permanente; a crise é acidental.

 

CAPÍTULO IX

DO DESENVOLVIMENTO DAS CRISES

 

Enquanto dure a sessão, o magnetizador, sejam quais forem as crises que se apresentem, deve ter uma inteira confiança em si mesmo.

Ele deve estar seguro de não estar enganado se conservar seu sangue-frio e sua coragem. Ao contrário, se ele se assusta, se ele se perturba, os acidentes que surgirem são por sua própria falha e não do magnetismo.

Quando uma crise sobrevém, é preciso deixá-la se desenvolver sem interrompê-la; mas não é preciso contribuir para que ela se prolongue.

É preciso aproveitar as crises que acontecem naturalmente. Se há dores na parte doente, se surgem movimentos nervosos, espasmos, transpiração, entorpecimento, sono, deixa-se o tempo necessário para a crise se desenvolver, tomando-se as precauções convenientes para que a transpiração não pare ou para que o doente não sofra nenhum acidente; ele se acalma pouco a pouco pelos passes.

Se ele adormecer pelo sono ordinário ou pelo sonambulismo, não é preciso despertá-lo subitamente. No primeiro caso, o impediríamos de tornar-se sonâmbulo; no segundo caso, lhe causaríamos convulsões.

Para evitar, de todas as maneiras, estes inconvenientes, ninguém deve tocá-lo ou ao menos, aqueles que não estejam em contato com ele.

Há crises úteis, ainda que dolorosas e elas são indispensáveis; é uma prova de que o magnetismo age. Estas crises se assemelham àquelas causadas por um vomitório ou um purgante; elas cessam, depois recomeçam. O doente deve ter a força e a paciência de suportá-las.

Se as dores são locais, o magnetizador as acalma ali concentrando a ação; se elas são gerais, ele faz passes à distância, que são calmantes, refrescantes e dão novas forças.

Quando uma crise se manifesta, o magnetizador deve deixar tempo para que ela se desenvolva e contribuir para uma magnetização conforme o estado do doente e, sobretudo, deixá-lo apenas quando a crise tiver terminado.

Todo magnetizador deve se convencer, diz Puységur, do quanto é perigoso o estado de convulsão abandonado a si mesmo, a menos que se opere sobre os epilépticos, sobre os quais o magnetismo só age bem lentamente. Todas as vezes em que se encontre indivíduos nos quais o magnetismo produz convulsões, é preciso evitar abandoná-los a si mesmos e ainda mais procurar aumentar este estado violento; é preciso, ao contrário, fazer todos os esforços para acalmar e somente deixar o doente quando ele estiver em um estado de certa tranquilidade.

 Obs: a seguir vem citação de Deleuze, reforçando as palavras do autor. as quais optamos por não transcrever, pois já estão expressas no texto. (NT)

 

CAPÍTULO X

DA DURAÇÃO DO TRATAMENTO MAGNÉTICO

É necessário distinguir entre um tratamento magnético e uma magnetização acidental e passageira.

Para curar uma doença é preciso tempo; é neste caso que se torna necessário um tratamento regular e não interrompido.

A duração de um tratamento varia segundo o estado do doente e o gênero de sua afecção; como as doenças diferem em cada indivíduo, é quase impossível determinar um tempo.

A experiência demonstra que algumas doenças se curam em oito dias, em quinze dias, em um, dois e três meses e outras em seis meses ou mesmo além disso.

Ocorre ainda, quando se começa a não ter mais confiança, a ação tornar-se mais sensível, a doença se atenuar e a cura acontecer. Não seria demais repetir: se o magnetismo nem sempre produzir efeitos sensíveis e aparentes, não é preciso se desencorajar tão rápido.

 

CAPÍTULO XI

DO PERIGO DE COMEÇAR UM TRATAMENTO SEM ESPERANÇA DE CONCLUÍ-LO

§ I: Perigos resultantes do deslocamento de humores

Jussieu, tendo reconhecido ao magnetismo o poder de operar desvios salutares diz, em seu relatório ao Rei: “Deslocar-se-ia assim um humor que não teria tido tempo de se fixar, restabelecer-se-ia muitas vezes o calor, a vida e o movimento nos membros recentemente paralisados.” (Relatório ao Rei, pág. 38)

O deslocamento dos humores é, com efeito, um dos resultados mais freqüentes da magnetização e eu vou, entre milhares de provas, citar uma: “Todo magnetizador que não tenha nem a possibilidade nem a vontade de ocupar-se bastante com o lazer para bem conduzir um tratamento magnético não deve empreendê-lo diz Puységur, pois após um doente experimentar os bons e salutares efeitos da ação magnética, a cessação muito súbita desta ação a torna prejudicial e os fatos seguintes provam isto.

Um jovem afetado pela surdez veio me procurar em Busancy e o cura de Joli que foi mais surdo que ele, o encorajou a vir tentar o mesmo remédio que ele; este jovem não era sonâmbulo. O efeito que ele sentia era uma dor na cabeça e um zumbido nos ouvidos. Pouco a pouco sua dor de cabeça aumentou e ele tinha por vezes o ar hebetado.

Eu tinha então doentes sonâmbulas e eu o apresentei a uma delas:

- Faz-se um grande trabalho em sua cabeça – me disse a sonâmbula – ele terá um mal a suportar.

- O que lhe acontecerá então?

- Ele se tornará louco e se você não tomar cuidado, ele partirá num belo dia sem que você saiba e você não o verá mais.

- E o que lhe causará este cruel acidente?

- O humor que se desloca em sua cabeça e que desejaria sair. Se continuar o magnetismo, pouco a pouco ele sairá por seu nariz e suas orelhas, mas ele é bem grande!

- E ele se curará?

- Sim, mas precisará de tempo.

Uma vez bem advertido, eu tomei todos os tipos de precauções para que meu doente não pudesse se escapar, sobretudo à noite; eu o via às vezes com o ar perturbado. Ao fim de um mês ele teve um escorrimento nos ouvidos e começou a ouvir bem melhor.

Mas o que me haviam anunciado aconteceu. Um dia vieram me dizer que meu surdo havia destrancado suas janelas e com a ajuda de uma corda saiu de seu quarto sem que eu soubesse onde pudesse estar. Eu escrevi a Dormans, onde seu pai tinha um albergue e soube que no dia de sua partida de Busancy ele disse que estava curado, pois havia entendido bem a todos aqueles que vieram lhe procurar naquele dia. Soube que este bem estar não havia durado muito tempo e que no dia seguinte a surdez havia retornado, levemente de início, até que, por fim, ela havia - no momento em que me escrevia - retornado tão forte quanto antes de ser magnetizado.

Oito dias depois, o pobre rapaz veio me ver; ele não se lembrava nem de sua partida de Busancy, nem de sua viagem para casa e de nada que lhe aconteceu. Eu tentei, porque ele me pediu, recolocar uma segunda vez os humores de sua cabeça em movimento, mas foi em vão; como o trabalho da natureza foi interrompido, o mal retomou a vantagem e nenhuma força magnética pode de novo deslocá-los. Estes dois exemplos, acrescenta Puységur, tão instrutivos tanto para os magnetizadores como para os doentes, devem ensinar aos primeiros a jamais empreender tratamentos magnéticos sem estar bem seguros de sua continuidade... se nada é mais soberanamente e vitoriosamente curativo que o agente da natureza posto em ação por uma boa e constante vontade, nada é mais perigoso que suspendê-la ou cessar seu movimento quando seus bons efeitos se manifestam.” (Puységur, Pesquisas Psicológicas, 388 a 390).

§II – Perigos resultantes da provocação de germes mórbidos não seguida de desenvolvimento

Joli, um dos doentes de Puységur, escreveu um dia, em estado de sonambulismo a seu magnetizador: “O magnetismo animal acaba de provocar em mim uma doença a qual chamam de catalepsia, que viria em seis meses da qual eu seria morto, mas talvez não morrerei a tendo atualmente; então é uma grande vantagem para mim dizer que morrerei talvez em lugar de morrerei certamente; estou convencido de que não é o grande número de crises nas quais eu entrei que precipitaram esta doença da qual, eu espero, contudo, ter um resultado favorável.

 Eu acredito, diz a este respeito Puységur, que não há circunstância em que não se deva esperar bons efeitos do magnetismo; mas quando os doentes são suscetíveis de entrar no estado magnético, talvez seja perigoso cessá-lo tão cedo porque o magnetismo, tendendo a desenvolver o germe das próximas doenças, um efeito começado e não sustentado pode contrariar a natureza sem acrescentar a seus recursos.” (Puységur, Memórias)

 

 

 

AUBIN GAUTHIER

Conheça um pouco sobre este corajoso e incansável magnetizador. Charles Leonard Lafontaine.

  B I O G R A F I A Charles Lafontaine Em 1841, assistindo uma demonstração pública de magnetismo, o médico inglês James Braid, de Mancheste...